Pedir para alguém ignorar sua fé ao discutir política é hipocrisia pura. A religião molda valores, moral e decisões políticas há milênios. Tentar silenciá-la é beneficiar, a pretexto de neutralidade, ideologias que também são, no fundo, visões de mundo, só que menos declaradas.
A decisão de cada pessoa em ser materialista ou religiosa/não-materialista afetará toda sua vida, pois essa escolha determina a própria METODOLOGIA DO VIVER. A visão de mundo, a visão de propósito (ou falta dele) da existência, e também a visão de objetivo do indivíduo, da sociedade e da política – tudo isso irá em direções opostas a partir daquela escolha binária.
Por essa razão é absurdo pedir que uma pessoa “deixe sua visão mais importante de mundo” ao falar sobre política.
Decisões políticas tem repercussão para indivíduos e sociedade. Não só para um grupo. Inclusive, à luz das pesquisas, a visão materialista/ateísta tem uma representação MENOR do que aquelas das pessoas religiosas.
Claro que as religiões tem suas próprias diferenças doutrinárias! Alguém pode argumentar que “não concordam em muitas coisas”, mas por outro lado TODAS concordam que existe um outro plano além do material, e que existe um PROPÓSITO não-humano (definido por Deus ou qualquer forma de Criador que seja citada). E as questões principais sobre ação individual e em sociedade acabam tendo também um núcleo comum!
No materialismo histórico por exemplo, APENAS o homem, em seu processo histórico, é autor do sentido da vida e da sociedade. Não existe um propósito intrínseco para NADA.
Essa mesmíssima reflexão também deve ser feita por parte do religioso, afim de que não seja apenas um outro lado do mesmo erro.
Como não-materialistas/religiosos, nós também devemos incluir o que os materialistas acreditam em termos de consideração e avaliação quando se trata de questões públicas.
Existem vários PARTIDOS E IDEOLOGIAS BASEADAS NO MATERIALISMO, que se organizam e criam grupos e frentes parlamentares guiados pela cosmovisão DELES! Dizer que “só os grupos/partidos religiosos devem ser proibidos” é apenas a versão coletiva ou institucional daquela má fé já apontada em questões individuais.
Religiosos nunca devem abrir mão de seu paradigma em discussões. Seus princípios são parte essencial de quem SÃO! É hora de reconhecer essa influência e garantir que o debate público seja realmente plural, incluindo TODAS as vozes, inclusive as religiosas, sem hipocrisia!
Por Peter Leal