Bispo mais novo do Brasil é vicentino

No dia 6 de abril, a Igreja Católica brasileira comemorou a ordenação episcopal do bispo mais jovem do país, Dom Danival Milagres Coelho, de 47 anos. E se a Igreja celebrou, a Sociedade de São Vicente de Paulo tinha um motivo a mais para festejar: Dom Danival foi vicentino atuante em Minas Gerais. Ele concedeu entrevista ao site do CNB e contou sobre sua vida, a participação na SSVP, sua vocação e a missão dentro da Igreja, que traz muito do carisma vicentino.

Danival nasceu em 4 de setembro de 1976, na comunidade da Cachoeira, no município de Senhora dos Remédios/MG. É o caçula de cinco filhos do casal vicentino José Adalério Coelho e Maria José Milagres Coelho. “Nasci e cresci dentro da Igreja Católica, na Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, acompanhando meus pais nas missas dominicais, indo de charrete. Depois mudamos para a cidade, em busca de melhor condições de vida e facilitar o acesso aos estudos. Na paróquia, desde os meus sete anos, fui coroinha e começou a crescer em mim o desejo de servir a Deus e ajudar na Igreja. Nosso pároco, Padre Egídio Geraldo Reis, foi um grande promotor vocacional na cidade, era um exemplo de padre zeloso. Foi uma pessoa muito importante na minha vida, no meu despertar vocacional. Ele sempre rezava pelas vocações. O seu zelo apostólico em favor das vocações fez com que, na minha cidade pequena, com 10 mil habitantes, saíssem 41 padres e mais de 50 religiosas. Desse grupo de padres, eu sou o primeiro bispo da minha Paróquia de origem”, partilhou o novo bispo.

Seus pais eram da Conferência Nossa Senhora das Graças, em Senhora dos Remédios, e Danival ainda menino começou a participar. Foi proclamado vicentino, participou de várias atividades da SSVP, retiros e encontros da comissão de jovens, mas aos 15 anos teve que se afastar, quando tomou a decisão de entrar para o Seminário para responder ao chamado de Deus.

Assim, em 1992, ingressou no Seminário Menor Nossa Senhora da Assunção, em Mariana/MG, onde cursou o Ensino Médio. Na sequência, fez o Seminário Maior, onde cursou Licenciatura em Filosofia (1995 a 1997) e fez o curso de Teologia (1998 a 2001). Em 1998, recebeu o Ministério do Leitorato e, em 1999, o Ministério do Acolitato. Foi ordenado Diácono em 10 de novembro de 2001, em Mariana e padre, em 29 de junho de 2002, em Senhora dos Remédios. “Fui ordenado diácono e padre por Dom Luciano Mendes, servo de Deus, que está em processo de beatificação.

A pedido de Dom Luciano, foi para Roma, na Itália, fazer mestrado em Teologia Bíblica, de 2005 a 2008, na Pontifícia Universidade Gregoriana. “Inclusive tive a oportunidade, antes de voltar ao Brasil, de ir à França e lá estive na Casa Mãe dos Vicentinos, concelebrei na Igreja onde está o corpo de São Vicente de Paulo, visitei a capela das Irmãs Filhas da Caridade”, lembra.

Trajetória na Igreja

Na arquidiocese de Mariana, exerceu as funções de diretor espiritual do Propedêutico, e mais tarde colaborador na paróquia São José Operário, em Barbacena/MG. Dom Danival também foi pároco da paróquia de Sant’ana, em Carandaí/MG, coordenador arquidiocesano da Pastoral Vocacional. Em Mariana, no Seminário Arquidiocesano São José, no Instituto de Teologia exerceu a função de Diretor Espiritual, Diretor Acadêmico e professor de Sagrada Escritura e foi também Diretor do Seminário de Filosofia. Atuou também como professor de Sagrada Escritura no Seminário Diocesano de Patos de Minas/MG; no Seminário Arquidiocesano de Diamantina/MG e na FAJE, em Belo Horizonte/MG.

No período que trabalhou como formador no Seminário em Mariana, Dom Danival era também vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto/MG. Ele exerceu ainda a função de coordenador arquidiocesano da Pastoral Universitária; de representante arquidiocesano dos presbíteros; Vigário Geral para o Clero, desde 2018; e, desde 2017, foi Pároco da paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, onde permaneceu até a sua nomeação episcopal pelo Papa Francisco, no dia 2 de fevereiro de 2024, como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Goiânia/GO.

Vicentinos

A escolha por ser padre diocesano não exclui o carisma vicentino despertado lá na infância nem a aproximação com a SSVP. Ele seguiu com Dom Danival no seminário e está presente até hoje em suas atividades. “Estive muito ligado aos vicentinos, mesmo durante o Seminário, porque no período de férias dava formação e retiro para os vicentinos. Durante meu período de pároco em Barbacena, na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, fui responsável pela organização e preparação da Beatificação da Jovem Mártir Isabel Cristina, que foi também vicentina. A gente vive o amor que São Vicente de Paulo nos despertou para com os Pobres. O compromisso com a caridade que a Igreja tem que ter, não é só da Sociedade de São Vicente de Paulo, tem que ser de todo cristão e sempre falo isso em minhas pregações. Quem é vicentino participa de um modo especial do serviço da caridade, mas todo cristão tem que testemunhar a fé pela caridade. De fato, a gente é chamado a viver o grande amor de São Vicente de Paulo aos Pobres como padre diocesano”, explica.

Dom Danival traz ainda em seu dia a dia os ensinamentos de Ozanam e São Vicente de Paulo. “Eu trago o compromisso de ser presença solidária junto aos Pobres e trago no coração também o compromisso de organizar serviços a favor da vida aos mais necessitados. Eu sempre falo que que não basta a gente fazer a caridade ao Pobre, o desafio maior da Igreja hoje, quando ela faz a opção preferencial por eles, na sua missão evangelizadora, está em evangelizar os Pobres. Sensibilizar as pessoas para a partilha, o serviço caritativo não é difícil, pois até as pessoas de boa vontade que não tem fé e têm uma humanidade amadurecida se abrem para a partilha. Eu falava para os vicentinos em Barbacena, quando vocês forem visitar os assistidos de sua conferência, não basta levar o pão material, é preciso dar um passo a mais. Além do gesto concreto da partilha, temos que ser presença evangelizadora, porque senão a gente só cuida da necessidade física, material e se esquece do espiritual”, destaca.

O bispo mais novo

A ordenação episcopal de Dom Danival ocorreu em 6 de abril deste ano, na Basílica de São José Operário,em Barbacena, presidida por Dom João Justino de Medeiros Silvaarcebispo de Goiânia, coadjuvado por Dom Airton José dos Santos, arcebispo de Mariana e por Dom Walter Jorge Pinto, bispo de União da Vitória/PR. O momento foi marcado por grande alegria e pela participação de vários vicentinos, que foram comemorar o novo bispo. Já a primeira missa foi realizada em sua cidade natal, Senhora dos Remédios.

O lema de seu episcopado é “Permanecei no meu amor” (Jo15,9). E os vicentinos também são lembrados em seu brasão, na figura da Beata Isabel Cristina, representada através da “Palma dos Mártires”, representando a devoção do novo Bispo à beata e a coragem do martírio (testemunho) que se espera dos sucessores dos Apóstolos.

Como o bispo mais novo do Brasil, Dom Danival tem a humildade de saber que tem muito a aprender. “Ao assumir a missão episcopal, ainda relativamente jovem, tenho a esperança de poder aprender muito com os irmãos do episcopado. O que me consola é saber que a gente assume uma missão não sozinho, mas de forma colegiada. O bispo vive a missão na comunhão com o Colégio Episcopal. Eu sempre tive no meu coração a certeza de que serei feliz, servindo onde a Igreja precisar de mim. E quando eu recebi o anúncio do Santo Padre da minha eleição episcopal, o que me ajudou a responder o ‘sim’ foram justamente as palavras de Dom Luciano, no retiro espiritual para a minha ordenação presbiteral: ‘não tenha medo de assumir a missão mais exigente que a Igreja lhe confiar’. E como eu confio mais na graça de Deus do que na minha capacidade, eu disse sim”, lembra.

Apesar de ter muito a aprender, segundo suas próprias palavras, Dom Danival acredita que sua juventude pode aproximar a Igreja das novas gerações. “A linguagem, o modo de ser presença no meio da juventude traz mais espontaneidade, o que aproxima. Como padre, eu trabalhei muito com os jovens e pude colocar esse dom em prática. Como bispo, eu posso, sem dúvida nenhuma, envolvê-los um pouco mais com meu jeito espontâneo, sendo presença junto deles, criando proximidade e confiança. Espero fazer o bem para a juventude, inclusive despertando novas vocações para a Igreja”, afirma.

Quando conversou com a nossa reportagem, Dom Danival tinha chegado em Goiânia há uma semana e já exercia a nova função de bispo auxiliar. “Estou disposto a aprender com essa nova realidade. Eu ainda não encontrei com os vicentinos. Mas sei que vamos nos encontrar, pois temos feito uma série de reuniões com os diversos grupos de serviço e organismos da Arquidiocese. Eles podem contar com minha presença amiga e paterna”, conclui.

Dom Danival carregará o título de bispo mais novo do Brasil por pouco tempo, o que não exclui a importância. No dia 14 de maio O Papa Francisco fez a a nomeação episcopal de Mons. Agnaldo, como bispo de Garanhuns, ele passa a ser o bispo mais novo do Brasil agora, pois fez 47 anos no final de maio. Como sua ordenação ainda não aconteceu, por enquanto, o bispo mais novo do país é um antigo vicentino!

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