Não faz muito tempo, talvez a menos de vinte anos, a região do entorno de Brasília tinha uma vegetação rica em arvores, arbustos e forrageiras. Muitas delas com ações terapêuticas. Na região havia muitos animais e pássaros cantavam em todo o cerrado.
Em todas as estações do ano havia frutos que alternavam entre eles como que em uma escala de produção: pequi, Bacupari, Mangaba, pitomba, Gabiroba, Curióla, Pitanga, Araçá, Araticum, Cagaita e Coco Xodó.
Era uma festa contínua para a criançada e também para os animais, mas hoje a realidade é bem diferente, mataram nossa vegetação, afugentaram os animais, tudo que tem nesta área é um descampado, onde somente olhando com olhar rasteiro é que se pode ver um verde meio descorado, é o chamado império da soja.
Em outras palavras seria dizer, a derrubada do cerrado tem nome, tem preço. Estamos tendo verões longos e calor mais intenso, tempos de chuvas escassas, calor abundante, rios e açudes com pouca água ou secos, terra rachando em razão da evaporação das águas que a terra retém para se manter compacta e água que sobe e não desce, chegando a passar meses sem que caia uma única gota de chuva.
Achar o culpado para todas estas mudança não se trata de julgar alguém ou criar causa para a situação, no entanto o desmatamento ocorre a olhos vistos onde áreas imensas totalmente destruídas é uma imagem habitual no cenário de nossas vidas atualmente. Deparar com áreas que sempre foram úmidas, regiões que eram de várzeas ou brejos e que mudaram suas características por falta de água nos rios que os abasteciam. Olhando por todos os lados é perceptível, quantas mudanças surgem constantemente, quantos locais que antes eram chamados de banhados e até lagoas que hoje são áreas residenciais. A redução da área de cerrado tem levado rios e pequenos lagos a deixarem de existir. A condição atual para o cerrado é ser transformado em lavoura ou conjunto habitacional. Não se trata de ser contra o progresso, mas não é possível acreditar que a destruição das matas, cerrados e reservatórios naturais de água, sejam mesmo denominados avanço, progresso ou qualquer outro nome que possa traduzir em progressão para a vida no planeta.
Por Zilma de Melo
Jornalista